Banalidade do Culto Afro no Brasil -repassando



             Todo homem precisa de uma busca. Acreditar nos seus sonhos, na existência de algo superior e criar os meios de transpor o mundo das idéias para o mundo real. Caminhar, buscar, enfrentar desafios, correr risco e sempre seguir em frente olhando para o horizonte.
          O que seria de nós sem as motivações existênciais?

          Eu sou Kaliel Conrado, profissional do rádio, comunicador e um ser latente espiritualmente.
          No dia 20 e maio de 2011 uma nova etapa em minha vida de traçou, um dia qualquer pra muitos, mas um dia histórico para mim. Mas antes de me aprofundar neste caso, me sinto na necessidade de fazer um relato histórico.

          Espiritualmente tive inúmeras trajetórias, em alguns momentos, corri atrás de diversos credos, religiões, filosofias de vida, seitas... Enfim, uma boa parte de minha existência até agora foi marcada por uma busca por respostas, uma busca pelo sobrenatural.

          Eu tentei saciar minha sede de conhecimento no catolicismo, protestantismo, espiritismo kardecista, esoterismo, ocultismo, xamanismo, celtismo, druidísmo, teosofia, hinduísmo, budismo, cabala, sufismo,umbanda, candomblé e por fim o culto de Ifá. Ufa! Fiz uma jornada e tanto, não é mesmo? Mas cada uma dessas vertentes religiosas contribuiu no meu processo de crescimento interior e pude perceber que cada uma tem uma centelha divina, uma verdade e, pode sim, nos guiar para nossa buscar única – regressar para nossa fonte criadora.

          No final de tudo, cheguei a conclusão de que  somos nós mesmos que fazemos o caminho, a diferença!
          Foi preciso fazer esta longa jornada para hoje me deparar com o que realmente eu precisava para esta existência - ser iniciado no culto de Òrunmìla-Ifá. Com isto, quero dizer que, é preciso cada um fazer sua peregrinação místico-religiosa - O processo de transformação existêncial.

          O culto de Òrunmìla-Ifá é uma filosofia de vida mística africana, não é candomblé, nem umbanda, nem kimbanda, nem Congo, nem Batuque e nem muito menos o que chamam erroneamente de Macumba. É algo muito diferente, profundo, filosófico, intrínseco, mágico e libertador e que, felizmente,  qualquer pessoa, de qualquer credo religioso, pode ser adentrar ao culto e seus mistérios milenares.

          Porém, algo me incomoda e me deixa profundamente decepcionado. Neste momento irei me referir a todos que são os Chefes, Sacerdotes, Babalorixás, Yalorixás, Omos, Awos, Babalawo ou qualquer outro que esteja e viva dentro das ramificações religiosas e culturais de matriz africana no Brasil.

          Eu conheci dezenas de líderes religiosos por este Brasil. Poucos, pouquíssimos, tiveram a minha mais profunda admiração, posso contar nos dedos de minha mão direita. A pergunta que você se faz agora é: POR QUÊ?

          Pois bem. Fico constrangido com a maneira que alguns líderes religiosos vêm conduzindo suas “casas de axé”. Depois de séculos de existência, o candomblé e outros seguimentos continuam sendo taxados de religião do mal, de feitiçaria, de demônio, de uma religião  “gays e lésbicas”. Impressionante como essa cultura mística filosófica africana continua sendo marginalizada. De quem é a culpa? Digo-vos, de cada um de nós e principalmente dos sacerdotes e sacerdotisas. Afinal, do “povo do santo”

          Aonde formos há uma marca da África, seja no penteado, no corte de cabelo, na comida, no jeito de falar, na dança, nas molduras , na arquitetura... Não podemos negar, somos uma extensão em potencial da África.

           Ir contra isto é contestar nossa própria existência!

          Virar as costas para esta cultura é negar nossa Ancestralidade, nossos antepassados. Não podemos esquecer aqueles que lutaram, derramaram seu sangue e morreram para hoje estarmos aqui, vivos. Uma árvore pode ficar de pé sem raiz?

          Sem generalizar, mas lamentavelmente, a religião africana aqui no Brasil se transformou num jogo de interesses particulares e escusos onde pais e mães de santo estão usando da religião para adquirir poder, fama e riquezas e no pior caso, estão transformando os barracões numa extensão de suas almas doentias e mesquinhas. Passaria horas escrevendo as diversas experiências que vi e vivi em algumas “casas de santo” “por aí; relatos que deixariam muitos leitores estarrecidos.

          A verdadeira espiritualidade não pode ser negociada, não pode ser manipulativa, não pode ser comprada. Muitos mais muitos candomblés que acham que cultuam os Orixás estão se transformando em galpão de escola de samba, onde os orixás são cegos mudos e surdos. Vejo orixás mais preocupados com suas bonitas roupas do que em mostrar a verdadeira essência. A superficialidade e as vaidades pessoais estão tomando de conta dos barracões. Vejo muita encenação e “amostramento”, uma disputa para quem sai com a roupa mais chamativa, mais brilhante, mais cheia de plumas e paetês. Orixás que se dizem incorporados que param no meio da dança pra ajeitar seus vestidinhos e ajeitar seus adornos, afinal tem que sair bonito pra foto e isso é fato!

          Recordo-me dos orixás dos mais velhos, que quando incorporavam não precisavam de roupas caras, saiam pro meio de terreiro, na terra batida pra dançar e bailar a noite toda sem cansar, os orixás que arregalavam seus olhos e pegam suas armas e bailavam lindamente relembrando a vida que tiveram aqui, das lutas, das guerras, dos amores; orixás que eram presente de verdade na vida de seus filhos e sabia dar o castigo certo quando o noviço cometia um erro. Vi e ouvi histórias de orixás que entravam no fogo e não se queimavam coisas que nós humanos jamais poderíamos entender.

          Onde estão esses Orixás?

           O que fizeram com os verdadeiros Orixás?

          Porque se calaram, cegaram e ensurdeceram ?

          Por que os orixás de hoje, incorporados em seus filhos, saem para o meio dos salões com os passos de dança ensaiados, rodam, pulam, gritam, retorcem e voltam pra dentro de um quarto escuro? É só isto que tem a oferecer?

          Brigas, fuxicos, intrigas, perseguições, tramas e sexo são coisas assim que estão acontecendo dentro de muitas casas de Candomblé. Zeladores que transam com seus filhos dentro de camarinha; pais de santo iniciando seus amantes, pais de santo mercenários que por dinheiro usa das entidades para feitiçaria para fazer amarrações, destruir e até matar. Orixás sendo conduzidos e guiados pelos seus amantes nos rituais. Esta raça pobre está acabando com nossa religião e destruindo com o nome dos verdadeiros Orixás. Neófitos, pessoas despreparadas recebendo cargos e funções dentro do culto se tornou rotina. Isto se chama comercialização da espiritualidade.

          É preciso fazer alguma coisa urgente!

          Conheço pessoas, principalmente mulheres, desesperadas, que gastaram fortunas para trazer seus maridos de volta, pessoas que foram enganadas, roubadas e usadas por certos sacerdotes africanos. Eu vi pessoas terem suas vidas destruídas nas mãos desses marginais da espiritualidade .

          Travestis com peito de silicone sendo iniciados , homens que se “montam” a base de silicone recebendo cargos exclusivos para mulheres; adeptos que mal terminam os rituais estão se trancando nos quartos com seus irmãos ou parentes de santo e transam; festas de orixás regada a muita cachaça e cocaína, amantes que participam das iniciações do seu companheiro e orixá ainda dança pra ele. Pessoas despreparadas e interesseiras estão sendo iniciadas a torto e a direita. Um festival de futilidades e tentativas de superação das frustrações pessoais de muitos adeptos.

          Cultuar orixá é cultuar a natureza e não se vê isto acontecendo. A maioria dos Terreiros de Candomblé e Umbanda estão localizados nas periferias das cidades, poucos ou quase nenhum tem a preocupação de desenvolver um trabalho ou um projeto educacional para combater o consumo de drogas. Deveriam procurar orientar, fazer palestras, criar parcerias com os poderes constituídos para tentar salvar ou evitar nossas crianças e adolescentes adentrarem nos mundo das drogas. Deveriam se unir em prol de um bem maior, coletivo ao invés de ficarem sentados em seus tronos esperando chegar clientes para barganharem favores ou dinheiro para sustentar suas vaidades pessoais ou seus amantes.

          Sei que meus pontos de vista não vão agradar a muitos e serei taxado de muita coisa, mas tenho minha consciência limpa e sou fiel as minhas convicções. Minha luta não é de muitos, e sim de poucos. Luto e defendo aonde quer que eu vá o nome de Orunmila, dos Orixás e de uma cultura poderosa como a Africana. Levantarei o estandarte em defesa de meus ancestrais e daquilo que é certo.

          Sei que não estou sozinho nesta batalha, com o tempo muitos outros irão acordar e se acoplar a nossa causa nobre. Um dia esses marginais da espiritualidade serão desmascarados e punidos pelas suas arbitrariedades.

          Não sou dono da verdade, sou um guerreiro, um seguidor de Ifá, um adepto que acredita nos verdadeiros Orixás e na sua força. Busquem as verdadeiras casas de Candomblé, não percam sua fé nos Orixás.

Ogbo ato ire ooooo!



Kaliel Conrado

Comentários

  1. Amiga e irmã.....estou à procura de uma casa de Ketu para dar obrigação,tenho visitado um monte delas e ainda não senti confiança em nenhuma....por vários motivos que vc já leu aqui nessa postagem.
    Amo meu Pai Òmolú e sei que tenho que dar minha obrigação de 7 anos.
    Meus parentes de santo;nem pensar!!! Então está se aproximando o dia e eu me sinto devedora das minhas obrigações com meu Pai.
    Se vc souber de alguma casa de Ketu,com gente honesta e de confiança para que eu visite....me fala,tá?
    Beijão da Cátia
    http://catiaartesmanuais.blogspot.com/

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  2. Amiga!
    Sinceramente eu hoje em dia não estou confiando em ninguém!
    Vou tentar entrar em contato com uma pessoa e te dou a resposta, bjs
    Axé

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